Tudo é muito bonito e aceitável no discurso, até que acontece com você. Sempre preguei a liberdade e diversidade, o direito que cada um tem de ser e manifestar o que quiser. Mas quando é o seu filho, seu próprio filho… que aperto no coração! Por mais liberal que a gente seja, acho que fica escondida em algum cantinho do coração aquela vontade de que nossa cria siga nossos passos. Escondida mesmo, porque jamais pensei nisso antes e já somo 5 anos de maternidade. Mas o fato é que aconteceu.
Foi ontem. No almoço. Estava servindo minha filha e, ao colocar o feijão no prato, ela disse: “em cima do arroz, não, mamãe. Do lado“. Parei de respirar. Pedi pra ela repetir e lá veio outra justificativa: “quero o feijão do lado do arroz porque o arroz já está muito quente e o feijão nem tanto“. Eu poderia argumentar, eu poderia impor (onde já se viu, todo mundo sabe que o jeito certo de comer feijoada é sobre o arroz!), eu poderia lamentar.
Ao invés de tudo isso, consenti e servi uma concha de feijoada bem devagar ao lado do arroz, como se estivesse provando a mim mesma que tudo bem minha filha fazer diferente de mim uma coisa que faço há mais de 30 anos. Teria sido mais fácil dizer “filha minha não come feijão ao lado do arroz!”, mas escolhi respeitar e acolher.
O fato dela querer pra ela algo diferente do que eu sempre quis pra mim não descredencia a vontade dela – ao contrário: mostra que existem outros jeitos possíveis. E o fato de que tivemos um almoço em família feliz e tranquilo prova que a tolerância é o principal ingrediente da convivência diversa e harmônica. Estão servidos?