Quá-quá pra lá e pra cá. Luna ganhou um pato de madeira da Anacris, sua madrinha, e ficou doida. Passou o dia inteiro andando com o pato. No dia seguinte, acordou e adivinha? Pato, lógico. Pouco tempo depois, percebi um silêncio estranho e uma expressão toda cheia de interrogações no rosto da minha filha. O pato estava entalado embaixo do sofá e, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Luna foi lá e fez. Puxou o pato do jeito errado e ficou só com o cabo na mão.
Ela parou de respirar. E acho que o pato também. Cabo na mão, pato embaixo do sofá. Tomei o cabo na mão e tirei o pato da cena do crime. Luna me olhava absolutamente perplexa. “Você quebrou, Luna” e ela “bôôô?” e eu “quebrou”. A carinha dela tentava assimilar a perda do pato, em vão. “Mamãe, bô?” ela insistia. Minha herança genética de pai aeromodelista e quase engenheiro somada à overdose de Grey’s Anatomy com uma pitada carregada de instinto materno, tudo isso misturado me fez levantar do sofá com um enunciado: “mas pode deixar que a mamãe vai consertar o pato pra você”.
Super bonder, martelo e dois pregos numa mão, pato e cabo na outra. Levei tudo isso para o banheiro, talvez por ser a coisa mais próxima de uma sala de cirurgia que eu tivesse aqui em casa. Analisei a vítima, as lascas da madeira, fiz cálculos para conseguir realizar o encaixe perfeito. Luna apareceu e eu disse que não podia falar no momento porque estava operando.
A cola não era suficiente para juntar as duas partes do brinquedo e tentei reforçar o vínculo com um prego. Não consegui. Por algum motivo, não se faz mais a superbonder de antigamente. A nova cola demora mais para fazer efeito, o que era preocupante já que o pato estava desconectado do cabo há uns 20 minutos. Apelei para o secador de cabelo. Depois ainda contornei a cicatriz com mais cola. Parece que deu tudo certo.
O pato está repousando sobre a pia da minha suíte, para que eu possa observá-lo. Amanhã Luna vai brincar com ele outra vez, como se nada tivesse acontecido. E eu vou para o trabalho com uma medalha no peito, por fazer o novo brinquedo favorito da minha filha voltar das cinzas (ou melhor, do pé do sofá).